17/06/2008

Falso Jabor.

Tenho recebido muitas mensagens como sendo do Arnaldo Jabor, em muitas dá para ver claramente que não se trata de palavras dele, resolvi colocar aqui este texto que REALMENTE pertence ao autor e que foi publicado está semana em vários jornais dos quais ele é colaborador.

Há um sub-eu rolando na internet
Ando pela rua e as pessoas me abordam: “Adorei o seu artigo que está circulando na internet! Maior sucesso!”. Pergunto, já com medo: “Que artigo?” “Esse texto genial que você escreveu, que se chama a ‘A Mulher impulsiona o mundo: é você mulher, quem impulsiona o mundo. É você quem tem o poder, e não o homem. É você quem decide. Bendita a hora em que você saiu da cozinha’”. Não me agüento e digo: “Você acha que eu ia escrever uma bobagem dessas?”. Aí, o admirador do texto apócrifo, fã de um ‘Jabor virtual’, se encolhe ofendido: “Mas...tem coisas legais...”. E eu , implacável: “Acho uma bosta...”. Pronto! O sujeito sorri amarelo e vira meu inimigo para sempre. Já reclamei aqui desses textos apócrifos, mas tenho de me repetir. Não dá mais. Todo dia surge na internet uma nova besteira, com dezenas de e-mails me elogiando pelo que eu não fiz. Vou indo pela rua e três senhoras me abordam: “Teu artigo na internet é genial! Principalmente quando você escreve: ‘as mulheres são tão cheirosinhas; elas fazem biquinho e deitam no teu ombro’...”. “Não fui eu...”, respondo. Elas não ouvem e continuam, sideradas: “Modéstia sua! Finalmente alguém diz a verdade sobre as mulheres na internet! Mandei isso para mil amigas! Adoraram aquela parte: ‘Tenho horror à mulher perfeitinha. Acho ótimo celulite. Querem estar sempre na moda, malhadas, mas não estão com nada, pois a imperfeição humaniza....’”. Repito que não é meu, mas elas (em geral, barangas) replicam: “Ah...nem vem...É teu melhor texto...”; e vão embora, rebolando, felizes. Há mais: ‘o cheirinho delas é sempre gostoso, mesmo que seja só xampu. O jeitinho que elas têm de sempre encontrar o lugarzinho certo em nosso ombro. Ou: o amor não é chegado em fazer contas, quando a mão dele toca tua nuca, tu derretes feito manteiga, pois o amor é uma raposa...(?)’. Vejam este que surgiu e acaba assim: ‘As mulheres de hoje lutam para ser magrinhas. Elas têm horror de qualquer carninha saindo da calça de cintura tão baixa que o cós acaba!’ Luto diuturnamente contra cacófagos e jamais escreveria ‘cós acaba’. Mas, para todos os efeitos, fui eu. A internet é a vala comum dos autores; lá eu sou amado como uma besta quadrada , um forte asno... (dirão meus inimigos: “Finalmente, ele se encontrou...”). Dentro da web, sou campeão mundial de lugares-comuns: ‘bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!’, ou ‘a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore,dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!’. Ainda sobre a mulher: ‘são escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades’. Fui eu, a mula virtual que escreveu tudo isso. E não adianta desmentir. E não publicam só textos safadinhos, mas até coisas épicas, como uma esplendorosa ‘Ode aos Gaúchos’ que eu teria escrito, o que já me valeu abraços apertados de machos bigodudos em Porto Alegre, quebrando-me os ossos: “Tché, tua escritura estava macanuda, tri-legal!”. Eu nego ter escrito aquele ditirambo meio farroupilha aos bigodudos, mas nego num tom vago, para não ser esculachado: “Tu não escreveste? Então tu não amas nossas ‘prendas’ lindas , e negas ter escrito aquele pedaço em que tu dizes ‘que a gente já nasce montado num bagual’? Aquilo fez meu pai chorar, e o pedaço em que falas que ‘por baixo do poncho também bate um coração?’ Tu tá tirando o cú da reta, tché?”- e me aponta o dedo, de bombachas e faca de prata. Não sou gay (ainda), mas esse texto me cobre com uma fresca chuva de purpurina. Logo depois, aparece outro artigo onde ‘eu-virtual’ teria escrito: ‘Antigamente, o homossexualismo era proibido no Brasil. Depois passou a ser tolerado. Hoje é aceito como coisa normal. Eu vou-me embora antes que passe a ser obrigatório’. Ou seja, sou gay e homofóbico ao mesmo tempo. Meu fantasma na internet também escreve sobre auto-ajuda; dou conselhos sobre sacanagem, para cornos e idiotas. Vejam: ‘Não dá para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo’. ‘Ficar’, também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é ‘namorix’. A pessoa pode ter um,dois e até três namorix ao mesmo tempo! Também dou conselhos a cornos, potenciais ou realizados: ‘Um dia, você será corno, a menos que nunca deixe uma mulher moderna insegura; senão, ela liga pra aquele ex, bom de cama, cafajeste, mas grandessíssimo, e pronto: lá vai você mugindo... Mulher insegura é uma máquina colocadora de chifres. Se não conseguir prendê-la, assuma seu chifre em alto e bom som!’. ‘Eu’ também dou conselhos aos burros. Ex: ‘Gente chata essa que quer ser séria, profunda. Putz! Deixe a seriedade para lá. No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota!’. Mas, o pior, são artigos escritos em meu nome por inimigos covardes para me sujar. Há um texto rolando nos computadores - há mais de um ano - que diz coisas como: ‘Brasileiro é babaca. Elege para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari. Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira. Brasileiro é vagabundo por excelência. Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de 90 reais mensais para não fazer nada, não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo. 90% de quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora. Mentira. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como aviãozinho do tráfico para ganhar uma grana legal. Se a maioria da favela fosse honesta, já teriam existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora, porque podem matar 2 ou 3 mas não milhares de pessoas. O brasileiro merece! E´ igual a mulher de malandro - gosta de apanhar ...’. Ou seja: admiram-me pelo que eu teria de pior; sou amado pelo que não escrevi. Na internet, eu sou machista, gay, homofóbico, idiota, corno e fascista. É bonito isso?
*Arnaldo Jabor, jornalista e cineasta - Estadão 17.06.08

4 comentários:

Pessoa número 7 disse...

Poxa, como é bom ler esse texto!
Não me conformo com as milhões de asneiras que recebo assinadas por Jabores, Veríssimos....

Não sei o que mais me assusta: quem acredita ou quem assina!
Quem assina não tem fé na própria cria, e acha que precisa de um nome grande para receber atenção.
Quem repassa não só não conhece o autor como não tem nenhum bom-senso de pesquisar antes...

É... na internet nada tem identidade.

lucgomes disse...

Voce não cita a fonte e seu artigo acaba sendo muito parecido com os fakes. Você não redigitou um texto imenso desses (ou re-digitou?) Poderia informar de qual jornal você tirou ?

Frau !!! disse...

Olá Luc!

Como mencionado acima esse texto saiu em diversos jornais nos quais o Jabor colabora. Entre eles o Estadão do dia 17.06.08 (data da postagem), do qual sou assinante. Embora tenha lido na versão impressa o texto foi retirado da versão on-line. Segue o link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,ha-um-sub-eu-rolando-na-internet,190734,0.htm

Obrigada pela visita...abs.

Unknown disse...

Engraçado que no portal da globo, de onde imagino que o autor seja funcionário, há uma frase dessas dada como da autoria do Jabor. http://frases.globo.com/arnaldo-jabor/1741
Dessa forma, é impossível descobrir qual é a verdadeira identidade. E não sou eu que vou ficar pesquisando sobre cada autor que aparece nas redes sociais pra saber se ele escreveria algo parecido com aquilo, né?